Um Grito

Eu, Jeannette, escrevi um livro, chamado :"Um Grito Das Ruas" sobre nosso chamado em missões e os  dez primeiros anos em Belo Horizonte.


Voce pode comprar o livro depositando R$ 25,00
Banco  Bradesco 237
Agencia 1203-3 Floresta UBH
Conta corrente 20996-1
Em nome de Johannes Lukasse ou Jeannette Elisee Claudia Thea Lukasse

Por favor me manda um email (jeannette@lukasse.com) com o comprovante do deposito e o seu endereço completo, para te mandar o livro pelo correio.  

Voce pode ler o primeiro capitulo aqui: 
Capítulo 1
Brutalidade policial

                        De repente um grupo de policiais raivosos cercou nossa equipe ministerial numa calçada de uma das ruas do centro da cidade. As crianças de rua que estavam amontoadas ao redor da equipe pularam e saíram correndo. Dois dos meninos menores não eram rápidos o suficiente. Um policial mais magro, com o rosto contorcido de raiva e ossos salientes, agarrou as duas crianças pela pele de seus pescoços e, gritando obscenidades, bateu com a cabeça delas contra uma parede de concreto. Elas caíram na calçada cheia de lixo. Depois disso aquele policial realmente perdeu o controle e foi em direção a Mati, um dos membros de nossa equipe.
                        Eram onze horas da noite de uma sexta-feira. Como era a prática de nossa equipe, alguns membros da liderança tinham ido a região central da cidade de Belo Horizonte. Eles conheciam os lugares favoritos daquelas crianças, e imediatamente após a equipe aparecer, eram rodeados por cerca de vinte cinco (ou mais) crianças magras e sujas. A equipe distribuía sanduíches e leite achocolatado, além de fazer curativos em algumas que tivessem ferimentos abertos. E então, todos eles se assentavam na calçada em grupos pequenos para jogar jogos de tabuleiro, damas e xadrez.
                        Julio, o líder da equipe daquela noite, tocava uma batida simples no violão e com muita paciência explicava alguns acordes básicos a um pequeno garoto. Com seus dedos longos ele criava um som maravilhoso. Fascinado, o garoto o assistia e, então, com grande concentração, tentava flexionar seus dedos teimosos e sujos sobre o braço e as cordas daquele violão.
                        Mesmo sendo uma hora avançada da noite, os grandes ônibus vermelhos e azuis ainda estavam lotados. Cada vez que um ônibus passava fazendo um barulho como o de trovão, expelia uma fumaça preta que envolvia aquele pequeno grupo. Música pop era ouvida vinda de muitos bares que acompanhavam a descida da rua. Sinaleiros de néon brilhavam através do ar noturno da cidade, convidando as pessoas a se achegarem àquelas mesas e cadeiras dobradiças. Aqueles garotos que ali viviam estavam acostumados com a mistura caótica de odores, sons e cores. E isso, simplesmente porque ali era o lar que elas tinham. Elas brincavam, comiam e dormiam nas ruas.
                        Julio observava aquele grupo de meninos ao seu redor. Eles estavam silenciosos àquela noite, segundo o que observou, e ficou óbvio para ele que estavam gostando dos jogos e do momento de concentração. No entanto, a quietude foi rudemente atrapalhada com a chegada daqueles oficiais da lei tão brutos.
                        Um policial alto e raivoso mirou bem em Mati, um samoano jovem e musculoso. Dois outros policiais estavam chutando fortemente qualquer pessoa que estivesse ao alcance deles. E, rapidamente, Julio pulou, mas não conseguiu evitar vários socos antes de alcançar Mati.
                        “Pare!”, ele gritou. “Nós somos mission...”.
                        Bum! Um soco muito bem direcionado acertou em cheio o rosto de Julio. Os policiais frenéticos pareciam estar determinados a bater em todos que estivessem no raio de alcance de suas mãos e pés. Mais carros de patrulha com sirenes insistentes estacionaram ali. Enquanto esquivavam-se das investidas dos policiais, Julio e sua equipe tentavam explicar que eram missionários e que não haviam feito nada de errado. Porém, os policiais raivosos pareciam estar totalmente fora de controle e sem nenhuma paciência para ouvir qualquer pessoa.
                        Mati era forte o suficiente para impor respeito aos policiais, mas não fez isto. Confuso, simplesmente levantou os braços em forma de um escudo sobre sua cabeça a fim de não ser muito ferido no rosto. Ele não era um lutador. Na verdade, a sua natureza não-violenta é que criou tanto carisma entre seus companheiros de trabalho. Os policiais não desistiam e continuavam chutando a todos que estavam pelo caminho. No clímax da agressão, alguns deles agarraram Mati, espremendo-o no assento traseiro de um veículo policial cinza e grande, e sumiram no meio da noite. Os outros carros-patrulha, com suas sirenes ainda disparadas seguiram-no deixando para trás uma nuvem de poeira e pessoas assustadas e sem palavras.
                        Alguns membros da nossa equipe estavam chorando, não por terem sido alvos de violência, mas por um terrível medo do que iria acontecer com Mati. Eles sabiam que a vida de Mati estava em perigo de morte. E, é claro, eles estavam familiarizados demais com as horríveis histórias de brutalidade contra algumas das seis milhões de crianças abandonadas naquele imenso país – crianças que eram pegas e levadas para lugares escuros e desertos onde eram torturadas e mortas. Mati, com sua pele escura, poderia facilmente se passar por brasileiro. Será que a polícia o havia confundido com algum líder de gangue?
                        Há algum tempo a polícia brasileira estava frustrada. O governo havia aprovado recentemente uma lei, adicionada ao Serviço de Proteção e Cuidado do Menor que, dentre outras coisas, dizia ser ilegal transportar crianças de rua na parte de trás dos carros de polícia ou espancá-las nos arredores. Os policiais achavam que haviam puxado o tapete sob seus pés, retirando deles a autoridade de operar nas ruas. Em protesto, eles ignoravam todas as crianças. Mas não era de se surpreender e nem era preciso alguém muito espertalhão para tirar vantagem de toda esta situação. Algumas crianças haviam até mesmo memorizado o número desta nova lei, gritando-o para os policiais que passavam com suas patrulhas, revistando bairros.
                        E como se não bastasse, alguns cabeleireiros sem escrúpulos estavam oferecendo às crianças de rua algum dinheiro por mechas de cabelo humano para fazerem perucas. Como resultado disso, mulheres com cabelos lindos e longos eram repentinamente empurradas por uma gangue de meninos que as encurralavam em algum beco. Ali, presas por braços fortes, elas saíam sem seus cabelos compridos. Este não era um procedimento de compaixão. Os ladrões usavam qualquer objeto cortante: tesouras cegas, facas de cozinha, lâminas de barbeador e até mesmo punhais. Quando estas práticas eram denunciadas, os policiais não faziam nada. Os moradores ficavam indignados. As manchetes dos jornais condenavam estes matadores. As mulheres, horrorizadas, enrolavam fortemente lenços ao redor de suas cabeças e corriam amedrontadas pelo centro da cidade sempre cheio de pessoas. Ainda assim, nada havia sido feito, e a tensão entre a população ia aumentando.
                        Aparentemente, os policiais não estavam mais ignorando as crianças – pelo menos não naquela noite.

******
                       
                        Eu havia adormecido há pouco tempo. Meu marido, Johan, estava em uma conferência da JOCUM (Jovens com uma missão) de duas semanas em Budapeste. Então, eu estava sozinha em um quarto com cama de casal. Nossas cinco crianças já estavam dormindo há horas. Carla, que trabalhava conosco, estava dormindo em nossa casa enquanto Johan estava viajando, para ajudar-me com as crianças. Porém, ela não estava lá naquela noite. De repente alguém começou a bater na porta do quarto, com força.
                        “Jeannette, venha depressa! Mati foi levado preso!”
                        Ainda meio adormecida, pulei da cama e abri a porta. E lá estava Carla, com um olhar que expressava pânico.
                        “Jeannette, por favor, apresse-se. Sofia acabou de voltar do centro da cidade e disse que a polícia levou Mati!”
                        “Como assim?” Eu olhei logo atrás de Carla e vi Sofia em soluços na cozinha. “O que aconteceu?”, perguntei, agora bem acordada.
                        “Os policiais nos bateram e levaram Mati”, Sofia chorava.
                        Sofia era uma mulher holandesa de estatura média, que não era facilmente provocada. Naquela noite seu marido tinha ficado responsável pelas quatro crianças para que ela pudesse se unir à equipe que iria para as ruas. Os dois eram trabalhadores muito dedicados e já estavam conosco por vários anos.
                        “E Julio? Onde ele está?” – eu perguntei.
                        Sofia balançou sua cabeça como se estivesse sem esperança e disse: “Ele me disse para levar a equipe para casa e enquanto isso ele seguiria Mati”.
            Eu me vesti rapidamente. “Sofia, acorde a todos imediatamente e diga a eles que comecem a orar! Eu irei dar alguns telefonemas e ver se alguém pode ajudar.”
                        Nossa equipe de quarenta pessoas, mais vinte e cinco ex-garotos de rua, vivia em um prédio que chamamos de Casa da Restauração. Embora já fosse mais que meia-noite, nunca ouvira tantas vozes em oração na sala de jantar.
                        Eu decidi ligar para um amigo da igreja, um brasileiro que era coronel da polícia militar. Enquanto discava o número, me senti muito grata por ter amigos nos quais podia confiar e telefonar no meio da noite. Uma hora e meia depois, o que parecia para nós uma eternidade, meu amigo me telefonou de volta com a notícia de que através do rádio de seu carro ele havia descoberto que Mati estava preso em um quarto escuro na central de uma garagem de ônibus. Imediatamente três pessoas de nossa equipe se dirigiram até o lugar determinado. Eram mais de duas horas da manhã, mais de duas horas depois de Mati ter sido levado.
                        A polícia havia conduzido Mati imediatamente para aquela central de ônibus para o torturar. Em um quarto vazio, a polícia o forçou a ficar de costas para uma parede de concreto, e então dez policiais bateram nele e o chutaram até que finalmente ele desmaiou. Quando recobrou os sentidos, a polícia novamente o espancou até que desmaiasse novamente.
                        Nossa chegada naquela estação de ônibus surpreendeu os policiais. Alguns tentaram nos expulsar enquanto outros rapidamente espremeram Mati para dentro do carro e partiram. Naquele meio tempo nós os vimos de longe e, cantando pneus, partimos atrás da patrulha. A situação acabou se tornando uma perseguição tanto em ruas largas e bem iluminadas, quanto em becos escuros. Com meu coração batendo a mil por hora, nós dirigimos contra o sentido do tráfico em uma rua de mão única. A busca finalmente acabou em uma rua quase sem iluminação em frente a uma escura estação policial. Os policiais brutalmente puxaram Mati do carro e o empurraram rapidamente através de uma porta que levava a um cômodo pequeno e escuro, onde ele caiu. Eu saltei do carro, passei por aquela porta, encontrei Mati e me ajoelhei ao seu lado. Vagarosamente ele se assentou, abrindo seus olhos avermelhados e inchados. Quando me reconheceu, começou a chorar.
                        Durante aquela longa e terrível perseguição, eu me senti com muita raiva daqueles policiais – me senti irada com o fato de terem levado Mati em primeiro lugar, e também porque ele foi torturado sem nem ao menos perguntarem o que estava fazendo. Eu estava convencida de que poderíamos levar Mati para casa assim que explicássemos a estes homens loucos quem nós éramos. Mas estava errada. Antes que pudesse dizer uma palavra, um dos policiais tentou me afastar de Mati, mas ele agarrou minha mão e não quis largá-la. O policial chutou as mãos de Mati e me amaldiçoou. Mati gemeu, abriu as mãos e caiu novamente no chão.
                        Agora eu realmente estava brava, mas antes de poder dizer uma palavra, fui arrastada a um quarto pequeno, com odor de mofo. Com um sorriso malicioso, o policial caminhou até uma televisão velha e colocou o volume no máximo possível. Então, ele andou até a porta e a fechou, batendo-a com força atrás de si. Ficou claro que eles não estavam interessados em explicações. Eu estava ficando doente de tanta preocupação. Mati tinha um problema de coração. Exatamente um ano atrás nós o havíamos levado duas vezes às pressas ao atendimento de emergência, com um ritmo irregular no coração. Eu não tinha certeza do que os policiais haviam feito com ele, mas tinha certeza de que ele estava com muita dor.
                        E ali estava eu, uma mãe de cinco filhos, presa no meio da noite em um quarto escuro no coração do Brasil.
                        Meu Deus! – meu coração clamava. O Senhor nos chamou para este país! Por favor, eu lhe peço que faças alguma coisa!


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